Necessidade de saber o que é alma.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Alegrete, Rio Grande do Sul |
Partiremos do seguinte princípio: Toda alma é imortal, pois aquilo que move a si
mesmo é imortal. O que move uma coisa, mas é por outra movido, anula-se, uma vez
terminado o movimento. Somente o que a si mesmo se move, nunca saindo de si, jamais
cessará de mover-se, e é, para as demais coisas movidas, fonte e início de movimento.
O início é algo que não se formou, sendo evidente que tudo o que se forma, forma-se de
um princípio. Este princípio de nada proveio, pois que se proviesse de uma outra coisa
não seria princípio. Sendo o princípio coisa que não se formou, deve ser também,
evidentemente, coisa que não pode ser destruída. Se o principio pudesse se anular, nem
ele mesmo poderia nascer de uma outra coisa, nem dele outra coisa, porque
necessariamente tudo brota do princípio.
Concluindo, pois, o principio do movimento é aquilo que a si mesmo se move. Não
pode desaparecer nem se formar, do contrário o universo e todas as gerações parariam e
nunca mais poderiam ser movidos. Pois bem, o que a si próprio se move é imortal.
Quem isso considerar como essência e caráter da alma, não terá escrúpulo nessa
afirmação. Cada corpo movido de fora é inanimado. O corpo movido de dentro é
animado, pois que o movimento é da natureza da alma. Se aquilo que a si mesmo se
move não é outra coisa senão a alma, necessariamente a alma será algo que não se
formou. E será imortal.
Sobre a imortalidade, isso bastará.
-Fedro, Platão.
Esopo #1.
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Quis a raposa matreira
Que excede a todas na ronha.
Lá por piques de outro tempo,
Pregar um ópio à cegonha.
Topando-a, lhe diz: "Comadre,
Tenho amanhã belas migas,
E eu nada como com gosto
Sem convidar as amigas.
De lá ir jantar comigo
Quero que tenha a bondade:
Vá em jejum porque pode
Tirar-lhe o almoço a vontade".
Agradeceu-lhe a cegonha
Uma oferenda tão singela,
E contava que teria
Uma grande fartadela.
Ao sítio aprazado foi.
Era meio-dia em ponto.
E com efeito a raposa
Já tinha o banquete pronto.
Espalhadas em um lajedo
Pôs as migas do jantar
E à cegonha diz: "Comadre,
Aqui as tenho a esfriar.
Creio que são muito boas, —
Sansfaçon, — vamos a elas".
Eis logo chupa metade
Nas primeiras lambidelas.
No longo bico a cegonha
Nada podia apanhar;
E a raposa em ar de mofa,
Mamou inteiro o jantar.
Ficando morta de fome,
Não disse nada a cegonha;
Mas logo jurou vingar-se
Daquela pouca vergonha.
A dar-me o gosto amanhã
D'ir também jantar comigo".
A raposa lambisqueira
Na cegonha se fiou,
E ao convite, às horas dadas,
No outro dia não faltou.
Uma botija com papas
Pronta a cegonha lhe tinha;
E diz-lhe: "Sem cerimônia,
A elas, comadre minha".
Já pelo estreito gargalo
Comendo, o bico metia;
E a esperta só lambiscava
O que à cegonha caía.
Ela, depois de estar farta,
Lhe disse: "Prezada amiga,
Demos mil graças ao céu
Por nos encher a barriga".
A raposa conhecendo
A vingança da cegonha,
Safou-se de orelha baixa.
Com mais fome que vergonha.
Enganadores nocivos,
Aprendei esta lição.
Tramas com tramas se pagam.
Que é pena de Talião.
Se quase sempre os que iludem
Sem que os iludam não passam.
Nunca ninguém faça aos outros
O que não quer que lhe façam.
Pretendo aproveitar o livrinho de fábulas que me dei de presente. Esta traz uma mensagem que me é de muito valor, portanto compartilho em primeiro lugar (apesar de ainda não ter lido toda a compilação).
Creio que se abraçarem o conselho, os próximos dias forneceram-lhes melhores oportunidades.
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