O Meu Olhar...

terça-feira, 17 de abril de 2012




...é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


                                                     -Caeiro

Expressão por Hamlet!

terça-feira, 3 de abril de 2012

[rascunho28/03]

Atordoado por devaneios e as verdades nestes remoídas, Hamlet, apreensivo por respostas, encontra num grupo de atores a oportunidade de desmascarar os culpados pelo absurdo que aconteceu na corte ...

À peça, prestes a ser apresentada ao rei e a rainha, de história semelhante ao que ocorrera, são acrescentados diálogos fatais... E então surge a necessidade de que o príncipe explique o quão densa e intensa deve ser a atuação e a expressão da verdade na interpretação... Para que a “vítima”  recebesse um ataque fulminante em consciência e assim, por final, se revelasse culpada...

Lógico que este resumo em linhas não resolva a contextualização, o ideal é ler Hamlet.

Enfim, à peça... A armadilha...
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HAMLET: (Instruindo o primeiro ator)
Tem a bondade de dizer aquele trecho do jeito que eu ensinei, com naturalidade. Se encheres a boca, berrar as palavras, como costumam fazer muitos dos nossos atores, preferira ouvir os meus versos recitados pelo pregoeiro público. Não te ponhas a serrar o ar com as mãos , desta maneira (Faz gestos no ar com as mãos.); sê temperado nos gestos, por que até mesmo na torrente e na tempestade, direi melhor, no turbilhão das paixões, é preciso conceber e exprimir sobriedade – o que engrandece a ação. Oh! Dói-me até ao fundo da alma ouvir um desses latagões robustos, de peruca enorme, estraçalhando uma paixão até fazê-la a verdadeiros trapos, arrebentando os tímpanos dos assistentes, que, na maioria, só apreciam barulho e pantomima sem significado... Dá gana de açoitar o indivíduo que se põe a exagerar no papel de Termagante e que pretende ser mais Herodes do que ele próprio. Por favor, evita isso.

PRIMEIRO ATOR: Vossa Alteza, pode ficar tranqüilo.

HAMLET:  Mas também nada de contenção exagerada;  teu discernimento deve te orientar. Acomoda o gesto à palavra e a palavra ao gesto, com o cuidado de não perder a simplicidade natural. Pois tudo que é forçado deturpa o intuito da representação, cuja finalidade, em sua origem e agora, era, e é, exibir um espelho à natureza; mostrar à virtude sua própria expressão. Ora, se isso é posto de forma exagerada, ou então mal concluída, por mais que faça rir ao ignorante só pode causar tédio ao exigente; cuja opinião deve pesar mais no teu conceito do que uma platéia inteira de patetas. Ah, eu tenho visto atores – e elogiados até! e muito elogiados! – que, pra não usar termos profanos, eu diria que não tem nem voz nem jeito de cristãos, ou de pagãos – sequer de homens! Berram, ou gaguejam de tal forma, que eu fico pensando se não foram feitos – e malfeitos! – por algum aprendiz da natureza, tão abominável é a maneira com que imitam a humanidade!

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