[rascunho28/03]
Atordoado por devaneios e as verdades nestes remoídas,
Hamlet, apreensivo por respostas, encontra num grupo de atores a oportunidade de
desmascarar os culpados pelo absurdo que aconteceu na corte ...
À peça, prestes a ser apresentada ao rei e a rainha, de história semelhante ao que ocorrera, são acrescentados diálogos fatais... E então surge a necessidade de que o príncipe explique o quão densa e
intensa deve ser a atuação e a expressão da verdade na interpretação... Para que a “vítima” recebesse um ataque fulminante em consciência e assim, por final, se
revelasse culpada...
Lógico que este resumo em linhas não resolva a contextualização, o ideal é ler Hamlet.
Enfim, à peça... A armadilha...
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HAMLET: (Instruindo o primeiro ator)
Tem a bondade de dizer aquele trecho do jeito
que eu ensinei, com naturalidade. Se encheres a boca, berrar as palavras, como
costumam fazer muitos dos nossos atores, preferira ouvir os meus versos
recitados pelo pregoeiro público. Não te ponhas a serrar o ar com as mãos ,
desta maneira (Faz gestos no ar com as mãos.); sê temperado nos gestos, por que até
mesmo na torrente e na tempestade, direi melhor, no turbilhão das paixões, é
preciso conceber e exprimir sobriedade – o que engrandece a ação. Oh!
Dói-me até ao fundo da alma ouvir um desses latagões robustos, de peruca
enorme, estraçalhando uma paixão até fazê-la a
verdadeiros trapos, arrebentando os tímpanos dos assistentes, que, na
maioria, só apreciam barulho e pantomima sem significado... Dá gana de açoitar
o indivíduo que se põe a exagerar no papel de Termagante e que pretende ser
mais Herodes do que ele próprio. Por favor, evita isso.
PRIMEIRO ATOR: Vossa Alteza, pode ficar tranqüilo.
HAMLET: Mas
também nada de contenção exagerada; teu
discernimento deve te orientar. Acomoda o gesto à palavra e a palavra ao gesto, com
o cuidado de não perder a simplicidade natural. Pois tudo que é forçado deturpa
o intuito da representação, cuja finalidade, em sua origem e agora, era, e é,
exibir um espelho à natureza; mostrar à virtude sua própria expressão. Ora,
se isso é posto de forma exagerada, ou então mal concluída, por mais que faça
rir ao ignorante só pode causar tédio ao exigente; cuja opinião deve pesar mais
no teu conceito do que uma platéia inteira de patetas. Ah, eu tenho visto
atores – e elogiados até! e muito elogiados! – que, pra não usar termos
profanos, eu diria que não tem nem voz nem jeito de cristãos, ou de pagãos –
sequer de homens! Berram, ou gaguejam de tal forma, que eu fico pensando se não
foram feitos – e malfeitos! – por algum aprendiz da natureza, tão abominável é
a maneira com que imitam a humanidade!
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