Dos gregos, uma das relíquias mais preciosas que encontrei:
ACERCA DA
NATUREZA
I
Éguas que me levam, a quanto lhes
alcança o ímpeto, caval-
gavam, quando numes levaram-me a
adentrar uma via loquaz,
que leva por toda cidade quem
sabe à luz; por ela
era levado; pois por ela, mui
hábeis éguas me levavam
puxando o carro, mas
eram moças que dirigiam o caminho.
O eixo, porém, nos meões, impelia
um toque de flauta
incandescendo (pois, de ambos os
lados, duas rodas
giravam comprimindo-os) porquanto
as filhas do sol
fustigassem a prosseguir e
abandonar os domínios da Noite,
para a luz, arrancando da cabeça,
com as mãos, os véus.
Lá ficam as portas dos caminhos
da Noite e do Dia,
pórtico e umbral de pedra as
mantém de ambos os lados,
mas, em grandiosos batentes,
moldam-se elas, etéreas,
cujas chaves alternantes quem
possui é Justiça rigorosa.
As moças, seduzindo com suaves
palavras, persuadiram-na,
atenciosamente, a que lhes retirasse
rapidamente
o ferrolho trancado das portas;
estas, então, fizeram com que
o imenso vão dos batentes se
escancarasse girando
os eixos de bronze alternadamente
nos cilindros encaixados
com cavilhas e ferrolhos; as
moças, então, pela via aberta
através das portas, mantém o
carro e os cavalos em frente.
E a deusa, com boa vontade,
acolheu-me, e em sua mão
minha mão direita tomou, desta
maneira proferiu a palavra e me saudou:
Ó jovem acompanhado por aurigas
imortais,
que, com cavalos, te levam ao alcance de nossa
morada,
Salve! Porque nenhuma Partida
ruim te enviou a trilhar este
caminho, à medida que é um
caminho apartado dos homens,
mas sim Norma e Justiça. Mas é preciso que de tudo te
instruas: tanto do intrépido coração
da Verdade persuasiva
quanto das opiniões de mortais em
que não há fé verdadeira.
Contudo, também isto aprenderás:
como as opiniões
precisavam manifestamente ser,
elas que atravessam tudo através de tudo.
II
Pois bem, agora vou eu falar, e
tu, prestes atenção ouvindo a [palavra
acerca das únicas vias de
questionamento que são a pensar:
uma, para o que é e, como tal,
não é para não ser,
é o caminho de Persuasão — pois
segue pela Verdade —,
outra, para o que não é e, como
tal, é preciso não ser,
esta via afirmo-te que é uma
trilha inteiramente insondável;
pois nem ao menos se conheceria o
não ente, pois não é
realizável , nem tampouco se o
diria:
III
...pois o mesmo é a pensar e
também ser.
IV
Vê como o ausente é, no entanto,
presente firmemente em pensamento;
pois este não apartará o próprio
ente do manter-se ente
nem se dispersando de toda forma
todo pelo
mundo, nem se
concentrando.
V
O Encontro, porém, é para mim,
de onde começarei; pois lá mesmo
chegarei ainda outra vez.
VI
Precisa que o dizer o pensar o que é seja; pois há ser,
Mas nada não há; isto eu te
exorto a indicar.
Pois [ ____ ] por esta primeira
via de investigação,
Em seguida por aquela em que
mortais que nada sabem
forjam, bicéfalos; pois
despreparo guia em frente
em seus peitos um espírito
errante; eles são levados,
tão surdos como cegos,
estupefatos, hordas indecisas,
para os quais o existir e não ser
valem o mesmo
e não o mesmo, de todos o caminho é de ida e volta.
VII
Pois isto não, nunca hás de domar
não entes a serem;
Mas o que pensas, separa desta
via de investigação;
Nem o hábito multitudinário ao longo desta via
te force
A vagar o olhar sem escopo, e
ressoar ouvido
E língua, mas discerne pela
palavra a litigiosa contenda
Por mim proferida.
VIII
Ainda uma só palavra resta do
caminho:
Que é; sobre este há bem muitos
sinais:
Que sendo ingênito também é
imperecível.
Solitário, íntegro como intrépido
e sem meta;
Nem nunca era nem será, pois é
todo junto agora,
Uno, continuo; pois que origem
sua buscarias?
Por onde, de onde se distenderia?
Não permitirei que tu
Digas nem penses que do não ente:
pois não é dizível nem
pensável que seja enquanto não é.
E que necessidade o teria
impelido, depois ou antes, a
desabrochar começando do nada?
Assim, ou é necessário existir
totalmente ou de modo algum.
Tampouco do ente, nunca força de
fé permitirá
surgir algo para além do mesmo;
por isso Justiça nem
deixa vir a ser nem sucumbir,
afrouxando amarras,
mas mantém; a decisão sobre tais
está nisto:
é ou não é. Mas já está decidido,
por necessidade,
qual deixar como impensável e
inominado – pois é um
caminho não verdadeiro – e qual
há de ser, por existir e ser verídico.
Como existiria depois, o que é?
Como teria surgido?
Pois se surgiu, não é, nem se há
de ser algum dia.
Assim origem se apaga como o
insondável ocaso.
Nem é divisível, pois é todo
equivalente:
Nem algo maior lá que o impeça de
ser contínuo,
Nem algo menor, mas é todo pleno
do que é.
Por isso é todo contínuo: pois
ente a ente acerca
Além disso, imóvel, nos limites
de grandes amarras
Fica sem partida, sem parada, já
que origem e ocaso
Muito longe se extraviaram,
rechaçou-os fé verdadeira.
O mesmo no mesmo ficando, sobre
si mesmo pousando
E assim, aí fica firme, pois
poderosa Necessidade
Mantém nas amarras do limite,
cercando-o por todos os lados,
Porque é norma o ente não
ser inacabado.
Pois é não carente, não sendo,
careceria de tudo.
O mesmo é o que é a pensar e o
pensamento de que é.
Pois sem o ente, no qual está
apalavrado,
não encontrarás o pensar. Pois nenhum outro nem é
nem será além do ente, pois que
Partida já o prendeu
para ser todo imóvel; assim será
nome, tudo
quanto os mortais instituíram
persuadidos de ser verdadeiro,
surgir e também sucumbir, ser e
também não,
e alterar de lugar e variar pela
superfície aparente.
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