Que sabe que sente...

terça-feira, 5 de maio de 2015


"A cidade esfumaçada pela bruma e os fracos clarões da noite, representava a terra com suas tristezas e seus túmulos longe, porém não totalmente esquecidos, nem fora do alcance da minha vista. O oceano, alimentado por uma vasta calma, apesar da sua respiração eterna, personificava a minha mente e a influência que então a governava. Parecia-me que, pela primeira vez, eu me mantinha à distância e fora do tumulto da vida, e que o barulho, a febre e a luta estavam suspensos, que um prazo estava sendo outorgado às secretas opressões de meu coração, um dia de feriado, uma libertação de qualquer trabalho humano. A esperança que floresce nos caminhos da vida não mais se opunha à paz que mora nos túmulos; e as evoluções da minha inteligência me pareciam tão incansáveis quanto os céus, e no entanto todas as inquietações estavam aplainadas por uma calma alciônica: Uma tranquilidade que parecia, não o resultado da inércia, mas o antagonismo majestoso de forças iguais e potentes, atividades infinitas, infinito repouso!
Ó justo, sutil e potente ópio!... Tu possui a chave do paraíso!..."

Neste ponto levantam-se as estranhas ações da graça, reconhecimento relatados textualmente no começo deste trabalho e que podiam servir-lhe de epígrafe. No entanto, não sou Thomas de Quincey, ou o próprio Baudelaire... Não recorro mais à nenhum ópio, minha dor de estômago não provém de fome e a seguinte fase será como um buquê que termina a festa. pois em breve o cenário vai ensombrecer-se e as tempestades acumular-se-ão na noite...



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