Aleatoriedade Visual
Amor
Quero um amor alucinado, depravado, tarado.
Amor inteiro, de corpo-a-corpo, enlaçados.
Amor sem reserva, que a tudo se entrega, lancinante.
Quero você assim, abrasada, pedindo gozo,
Eriçada, ronronando feito gata, tesuda.
Seus seios túmidos, me furando o peito.
Quero você, pentelho contra pentelho, roçantes.
Carne encravada na carne. Bocas coladas,
Babadas, meladas, sangrando sufocadas.
Quero amar você tão bichalmente que urremos.
Eu, penetrando rasgando. Você me comendo furiosa.
Nós dois fundidos, unidos, soldados.
Você e eu, nós dois, sós, neste mundo dos outros.
- Darcy Ribeiro, do livro “Eros e tanatos”, Record, 1998.
Sobre a Natureza - Parmênides de Eleia
quarta-feira, 26 de março de 2014
Dos gregos, uma das relíquias mais preciosas que encontrei:
ACERCA DA
NATUREZA
I
Éguas que me levam, a quanto lhes
alcança o ímpeto, caval-
gavam, quando numes levaram-me a
adentrar uma via loquaz,
que leva por toda cidade quem
sabe à luz; por ela
era levado; pois por ela, mui
hábeis éguas me levavam
puxando o carro, mas
eram moças que dirigiam o caminho.
O eixo, porém, nos meões, impelia
um toque de flauta
incandescendo (pois, de ambos os
lados, duas rodas
giravam comprimindo-os) porquanto
as filhas do sol
fustigassem a prosseguir e
abandonar os domínios da Noite,
para a luz, arrancando da cabeça,
com as mãos, os véus.
Lá ficam as portas dos caminhos
da Noite e do Dia,
pórtico e umbral de pedra as
mantém de ambos os lados,
mas, em grandiosos batentes,
moldam-se elas, etéreas,
cujas chaves alternantes quem
possui é Justiça rigorosa.
As moças, seduzindo com suaves
palavras, persuadiram-na,
atenciosamente, a que lhes retirasse
rapidamente
o ferrolho trancado das portas;
estas, então, fizeram com que
o imenso vão dos batentes se
escancarasse girando
os eixos de bronze alternadamente
nos cilindros encaixados
com cavilhas e ferrolhos; as
moças, então, pela via aberta
através das portas, mantém o
carro e os cavalos em frente.
E a deusa, com boa vontade,
acolheu-me, e em sua mão
minha mão direita tomou, desta
maneira proferiu a palavra e me saudou:
Ó jovem acompanhado por aurigas
imortais,
que, com cavalos, te levam ao alcance de nossa
morada,
Salve! Porque nenhuma Partida
ruim te enviou a trilhar este
caminho, à medida que é um
caminho apartado dos homens,
mas sim Norma e Justiça. Mas é preciso que de tudo te
instruas: tanto do intrépido coração
da Verdade persuasiva
quanto das opiniões de mortais em
que não há fé verdadeira.
Contudo, também isto aprenderás:
como as opiniões
precisavam manifestamente ser,
elas que atravessam tudo através de tudo.
Não curto voz de mulher...
sábado, 15 de março de 2014
Mas a viagem vocal que é Yma Sumac arrepia!
Dezenas de vezes ouvi muitos escarrarem com muita propriedade a sentença: As músicas com voz feminina não agradam tanto... Inclusive eu mesma, numa época onde, infelizmente, nos sentimos no direito de estipular e conceituar coisas da maneira mais superficial possível, compartilhei da mesma idéia... Resolvi me livrar da dívida e aproveitar o blog para postar algumas das vozes que estou a escutar e admirar:
PS: das duas que postei no Soundcloud, a primeira é pro gosto de um pessoal bem seleto.
Amo o que vejo
segunda-feira, 10 de março de 2014
Amo o que vejo porque deixarei
Qualquer dia de o ver.
Amo-o também porque é.
No plácido intervalo em que me sinto,
Do amar, mais que ser,
Amo o haver tudo e a mim.
Melhor me não dariam, se voltassem,
Os primitivos deuses,
Que também, nada sabem.
- Ricardo Reis
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